Analistas avaliam que viagem de Haddad à Europa deve adiar decisão sobre redução das despesas públicas. No exterior, geração de emprego mais fraca nos EUA faz juros americanos recuarem
O dólar chegou a R$ 5,83 nesta sexta-feira, mesmo diante de dados do mercado de trabalho americano bem mais fracos que o esperado. As incertezas acerca da condução fiscal no Brasil seguem fazendo peso na cotação, segundo analistas.
Os juros futuros também demonstram pressão sobre as incertezas da política fiscal. Para 2027, a taxa de depósito interfinanceiro (DI) já era negociada acima dos 13% ao ano.
Se a moeda fechar o dia neste patamar, é o maior valor desde maio de 2020, ou seja, no auge da pandemia de Covid.
Para Ramon Coser, especialista da Valor Investimentos, a viagem do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à Europa na semana que vem deve atrasar ainda mais o esperado anúncio de um corte de gastos pelo governo Lula.
— O governo não está se posicionando a respeito de um corte de gastos e não deve sair nada na próxima semana, com viagem de Haddad ao exterior. Quanto mais incerteza, o mercado fica em tom de espera, fica procurando se proteger, o que traz mais volatilidade — diz.
O ministro só deve voltar da Europa no próximo dia 9. Ainda segundo o especialista, a aproximação das eleições americanas, que terminam na terça-feira, trazem volatilidade ao câmbio.
Dado americano mais fraco que o esperado
Mais cedo, o relatório que mostra o número de vagas criadas nos Estados Unidos (payroll) mostrou a criação, em outubro, de apenas 12 mil postos de trabalho na economia, excetuando o setor agrícola. A expectativa era de criação de 113 mil. O furacão Milton foi um dos responsáveis pelo número bem abaixo do esperado.
— Esse dado muito abaixo das expectativas aumenta o risco de um mercado de trabalho desacelerando mais rapidamente que o esperado. O melhor cenário para o Fed não é de um mercado de trabalho deteriorando rapidamente, o que é um grande risco para a atividade econômica — diz Marcos Moreira, sócio da WMS Capital.
Mas, apesar da queda nos rendimentos das Treasuries, os títulos do Tesouro americano, o dólar não perdia a força no Brasil. Quando os juros nos EUA ficam mais baixo, a tendência é que os investidores busquem países com taxas mais altas, como o mercado brasileiro, o que normalmente leva a uma apreciação do dólar frente ao real. No entanto, o cenário doméstico de indefinição nas contas públicas tem pesado mais no câmbio.
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